Cultura

Marionetista ucraniana refugiada na Alemanha orienta workshop e partilha potencial dos títeres


Refugiada na Alemanha desde o início da guerra na Ucrânia, a marionetista Daria Ivanova vem a Santa Maria da Feira, dia 23 de setembro, orientar um workshop de construção de marionetas tradicionais do seu país, integrado na programação do Fora dos Eixos – Festival Internacional de Marionetas, que decorre de 21 a 24 de setembro, no Centro Cultural de Milheirós de Poiares.

Pretende-se que este workshop seja um momento marcante de partilha de conhecimento técnico e de experiências de vida, aberto à comunidade ucraniana local e a todos os públicos interessados na arte e na técnica de manipulação de marionetas Vertep, criada por titereiros ucranianos. A terapia com teatro de bonecos não escapará aos temas a abordar em contexto informal, tal como a atmosfera do feriado do Natal na Ucrânia, uma das mais importantes datas festivas para os ucranianos.

Investigadora, professora e dramaturga, a marionetista Daria Ivanova é também presidente da UNIMA Ucrânia (União internacional da Marioneta). Desde o início do conflito que se mantém ativa na sua área profissional na Alemanha, onde encontrou “um lugar seguro, longe dos perigos da guerra”, assumindo como missão “apoiar os colegas que permanecem na Ucrânia e os que foram forçados a fugir por causa da guerra”, bem como garantir a continuidade do ensino para estudantes de teatro de marionetas em território ucraniano, com recurso a aulas online.

Corria o terceiro mês da guerra na Ucrânia quando Daria Ivanova, já refugiada na Alemanha, foi convidada para um curso de Terapia de Marionetas, uma área do teatro de bonecos que, até então, nunca tinha explorado na prática e na primeira pessoa. “Percebi rapidamente que precisava dessa terapia, não só para o autoaperfeiçoamento profissional, mas também para curar as minhas próprias feridas. Trabalhei com a minha própria experiência traumática de guerra e de refugiada”, confidencia. Para a marionetista, a principal tarefa da terapia com fantoches é criar um espaço seguro e permitir que as emoções saiam de cada um de nós. “O fantoche e um terapeuta farão o resto”, sintetiza.

Aos 34 anos, Daria Ivanova soma um vasto currículo na área da investigação e organização de eventos de teatro de marionetas. A marionetista destaca a importância desta forma de expressão artística, repleta de metáforas, com um arsenal de meios expressivos. “É incrível o quanto um boneco pode fazer e que o artista humano não consegue!”, refere.

Sobre o futuro da arte das marionetas, Daria Ivanova anseia que seja “bem-sucedido e reconhecido em todo o mundo, centrado na integração europeia e no diálogo europeu. Acima de tudo, sem a sombra escura e sangrenta do passado russo e soviético, que durante muito tempo tentou absorver e matar a nossa cultura e identidade únicas”, especifica.

A marionetista lembra que “muitos titereiros ucranianos perderam os seus empregos ou lugares em teatros estatais por causa da guerra e sentem-se desamparados”. Defende o modelo da Europa Central e Ocidental, onde “o teatro é estruturado de forma diferente”, permitindo ao marionetista fazer um pouco de tudo – criar uma performance, produzi-la, organizar uma digressão ou participação num festival –, em contraste com o “modelo do sistema teatral soviético, onde cada marionetista desempenha exclusivamente a sua função – ator, encenador, artista, designer, construtor de marionetas –, quase nunca combinando estas áreas”, detalha. “Os artistas ucranianos, em particular os titereiros, são indivíduos criativos muito fortes e independentes”, remata.

As inscrições para o workshop de construção de marionetas Vertep, de Daria Ivanova, encontram-se abertas e a programação completa do festival Fora dos Eixos está acessível AQUI.

 

Publicado a 15.09.2023