Termas com História[s]
Os testemunhos dos termalistas são esclarecedores e o médico que os acompanha confirma os benefícios. Há mais de 14 anos que um grupo de entusiastas frequenta um programa terapêutico nas Termas de S. Jorge, sempre no final do verão, e os resultados são notórios. Regressaram a 22 de setembro para iniciarem mais uma "cura termal" de 20 dias!
Falamos de beneficiários da Caixa de Previdência do Pessoal dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Gaia e familiares, na sua maioria aposentados, que se mantêm fiéis ao ritual de uma temporada anual nas Termas de S. Jorge, em busca do tão ansiado bem-estar físico e mental que ali encontram. E não se trata de efeito placebo!
Abílio Ferreira, de 77 anos, é um exemplo paradigmático. Participa neste programa desde a primeira edição apoiada pela Caixa de Previdência. "Alinho em tudo o que seja bom e faça bem", conta-nos de forma pronta, recordando os tempos em que o corpo começou a ressentir-se das "mazelas nos ossos", que o obrigavam a tomar injeções duas a três vezes por ano.
"Felizmente isso acabou", confidencia. Logo no primeiro ano, notou melhorias evidentes "nas costas e nas vias respiratórias". Também a esposa, Maria Emília, sentiu os efeitos benéficos da "cura termal", em si e no marido. Aliás, foi com grande regozijo que assistiu à redução dos "roncos" de Abílio (expressão do próprio, em jeito de brincadeira) durante o sono, mas também das constipações, que antes eram frequentes.
"Nunca abandonei os tratamentos nas termas, mesmo durante a pandemia, enquanto foram possíveis, porque sinto que me fazem falta", conta-nos o Sr. Abílio com visível entusiasmo. "Além de me sentir muito bem, poupo em medicamentos e a Caixa de Previdência também poupa. Na verdade, poupamos todos”, enfatiza.
O médico de clínica geral da Caixa de Previdência, Manuel Guedes, acompanha Abílio Ferreira e os restantes elementos do grupo há muitos anos. Conhece-os como poucos, por dentro e por fora, e confirma uma "notória" redução de pedidos para "medicação analgésica e anti-inflamatória", realçando ainda a melhoria das suas capacidades motoras, agilidade, confiança e vigor.
O clínico reconhece que a prática termal ao longo dos anos foi determinante para uma "melhoria sustentável na mobilidade" e "recuperação do equilíbrio/estabilidade, que em certos casos já era precário". O Dr. Guedes, como é carinhosamente tratado pelos utentes, salienta ainda "o alívio de sintomas dolorosos e incapacitantes que são próprios de alterações degenerativas crónicas e da idade".
Na ‘radiografia’ à saúde e bem-estar deste grupo, o médico aponta também exemplos de "melhorias muito significativas" em situações crónicas do foro respiratório, nomeadamente pacientes que sofrem de rinossinusites, “já conformados com as queixas permanentes”, que acabaram por beneficiar de um "franco alívio dos seus sintomas".
Numa avaliação global dos utentes, o clínico refere "progressos significativos nas suas patologias" e "melhorias sustentáveis das queixas em quadros osteoarticulares crónicos", com o restabelecimento de capacidades que chegaram a estar seriamente comprometidas a curto prazo.
E ajudará o facto destes termalistas participarem de forma coletiva neste programa terapêutico? O Dr. Guedes está convicto que sim. “O programa, na forma como foi projetado, promove um convívio também ele importante nas relações interpessoais, incentivando partilhas e encontros sempre ricos do ponto de vista psicológico”. Que o diga Abílio Ferreira, que foi assumindo a coordenação do grupo ao longo dos anos e acompanhando o seu crescimento. “No início, éramos apenas meia dúzia de maduros e muitos começaram desconfiados. Este ano somos 44, alguns estreantes e muitos repetentes!”, refere com visível orgulho.
De facto, o que acaba por tornar-se mais notório e mais gratificante nesta experiência termal em grupo é a boa disposição, o espírito de cooperação, a simpatia e a empatia entre termalistas, técnicos e corpo clínico das Termas de S. Jorge. Uma relação que perdura há mais de 14 anos e que já se tornou familiar.
Que assim continue. E que sirva de inspiração a outros grupos que procuram saúde e bem-estar físico e mental no coletivo.
Todos serão bem-vindos!
. Nas fotos: 25 dos 44 participantes desta edição e o casal Abílio Ferreira / Maria Emília.
. Informações sobre os programas termais: 256 375 460.
Bastaram cinco minutos de conversa com Damiana Mota, no átrio das Termas de S. Jorge, para nos curvarmos perante a sua resiliência. Sim, a D. Damiana é um exemplo de superação e uma genuína lição de humildade para todos os que assumem a saúde e o bem-estar como garantidos, desvalorizando a dádiva gigantesca que representam.
É difícil – na verdade, é impossível – imaginar o dia a dia de alguém que convive com a dor 24 sobre 24 horas, sem tréguas. É assim o quotidiano de Damiana Mota, de 69 anos, que sofre de artrite reumatoide, uma doença inflamatória crónica autoimune, que a acompanhará para o resto da vida e que, no seu caso, “evolui de forma galopante”, travando-lhe os movimentos.
Antes deste diagnóstico, já a D. Damiana padecia de suberose, uma doença pulmonar associada à exposição ao pó a cortiça, setor onde trabalhou durante 39 anos – escolhia e separava as rolhas por categorias. “Comecei a trabalhar na fábrica ainda andava na escola primária. No início, ganhava dez tostões por semana”, recorda.
Nas Termas de S. Jorge, esta lutadora incansável e bem-disposta, residente na freguesia de Lourosa, encontra um refúgio para cuidar da sua saúde e bem-estar, contrariando os efeitos de ambas as doenças com terapêuticas indicadas para as vias respiratórias e problemas músculo-esqueléticos. É assim há mais de dez anos!
“Não posso estar à espera que a doença tome conta de mim. Se eu parar, vou ficar acamada”, explica com uma serenidade desconcertante. Por isso, ocupa os seus dias com sucessivos tratamentos, sempre acompanhada pelo marido, Manuel António, de 72 anos, com quem partilha o seu sofrimento na intimidade do lar. “O meu marido é um santo, faz-me tudo. Se fosse outro, já me tinha botado ao mar”, confidencia com uma genuína gargalhada, seguida de um sorriso emotivo de pura gratidão.
Damiana Mota faz parte da ANDAR – Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide. Participa nos encontros nacionais e já partilhou várias vezes o seu testemunho com a comunidade científica e com outros doentes, porque é um caso raro de superação. Orgulha-se de ter integrado um ensaio clínico preliminar sobre o tratamento termal na artrite reumatoide, que evidenciou efeitos benéficos na redução da dor e na melhoria do movimento e da qualidade de vida.
A médica Isabel Santos sofre da mesma patologia. Conhece bem a história da D. Damiana, que acompanhou durante vários anos no Hospital S. Sebastião e nas Termas de S. Jorge, e não tem dúvidas quando afirma que “a água, em especial a água termal, pelas suas propriedades anti-inflamatórias únicas, é um modo complementar de tratar a doença e o doente”. E porquê? Porque “facilita os movimentos, reforça os músculos e permite conservar e/ou melhorar as capacidades funcionais”. Outro benefício apontado pela médica e investigadora de Santa Maria da Feira é “a redução da dor”, que considera “o ponto fulcral”, a par de um sentimento de relaxamento e bem-estar “com consequente melhoria da qualidade de vida do doente”.
Médica por vocação e humanismo, Isabel Santos explica que os doentes com artrite reumatoide – devido à desorganização das suas defesas – combatem e destroem o seu próprio corpo como se fosse um inimigo. Embora a doença continue sem cura, porque ainda se desconhece a verdadeira causa, há vários medicamentos para combatê-la, adormecê-la, inclusive suspender a sua agressão. Por vezes, é até possível recuperar alguns danos, com recurso a medicamentos e a terapias complementares não medicamentosas. Um trabalho de equipa em que o doente deve ser o centro e dedicar-se inteiramente a esta batalha.
Nas Termas de S. Jorge humanizam-se os cuidados e valorizam-se os afetos. Aqui há pessoas que cuidam de pessoas. Virgínia Silva não é apenas a professora de Educação Física que acompanha e orienta a D. Damiana nos exercícios diários na piscina termal. A cumplicidade entre ambas é notória quando as suas mãos se tocam e os seus olhares se cruzam e fixam, para que a motivação nunca esmoreça. O mesmo se passa nos restantes tratamentos, onde cada gesto conta, seja dos técnicos seja dos colegas termalistas. “Toda a gente me conhece e me trata muito bem. Fiz aqui amizades que vou guardar para sempre”, conta orgulhosa, recordando as “Lauras de Paços”, protagonistas da primeira história da rubrica “Termas com História(s)”.
É certo que vida desta lourosense dava um livro, tantas são as histórias que tem para contar e os desafios que enfrenta diariamente. Mas há uma frase da D. Damiana que merece ser aqui partilhada. Uma espécie de ensinamento que sintetiza o testemunho e a postura surpreendente de quem sofre de uma doença crónica, que lhe trouxe 90 por cento de incapacidade, e convive diariamente com a dor: “A Damiana está aqui para alegrar os que estão aborrecidos”. Está tudo dito.
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Quando os amigos perguntam “O que é isso de fazer termas?”, os irmãos André desligam o complicómetro e concentram-se nos benefícios dos tratamentos que fazem para as vias respiratórias. João, de 11 anos, conta que agora respira muito melhor e passa bem os invernos. Cíntia, dois anos mais nova, diz que são importantes para prevenir alergias. Miguel, o caçula de 6 anos, garante que fazem bem ao nariz, à garganta e aos pulmões. Nota máxima para a assertividade e capacidade de síntese dos três irmãos de Fiães, que fazem termalismo pediátrico nas Termas de S. Jorge.
Os manos André não o dizem nestes termos – são crianças – mas sabem que os tratamentos termais têm um efeito de limpeza, desinfeção e cicatrização nas vias respiratórias. E porquê? Porque a água mineral natural das Termas de S. Jorge tem propriedades físico-químicas e microbiológicas especiais, que ajudam a respirar melhor. Que o diga o mais velho dos irmãos, o João, que teve alta das consultas de vigilância no hospital, depois do sucesso do termalismo pediátrico.
Foi a avó Maria André, de 73 anos, quem mais incentivou os três netos a fazerem termas, pois conhece como poucos os benefícios do termalismo, que se tornou tradição na família. Já a sua mãe, nascida em 1906, fazia banhos de imersão no edifício antigo das Termas S. Jorge, que lhe rejuvenesciam o corpo e a alma. Os três filhos de Maria também passaram pelo balneário termal, para prevenção de patologias respiratórias.
Maria André conta que sofre de sinusite crónica. Faz termas há mais de 40 anos, grande parte deles apenas para manutenção, pois os resultados foram imediatos. Mesmo assim, não esquece as persistentes dores de cabeça, a sonolência incontrolável e as infindáveis secreções nasais de que padeceu na sua juventude, sobretudo nos tempos em que viveu no convento.
Ainda hoje reproduz as palavras do médico aquando do diagnóstico: “Não há cá medicamentos para esta maleita. É ali que se vai tratar”, recorda, enquanto gesticula. “Ali” eram as Termas de S. Jorge, e a verdade é que melhorou visivelmente logo nas primeiras sessões. “Foi um grande alívio, uma coisa maravilhosa”, conta, com os olhos azuis arregalados. “Por isso, trouxe muitas irmãs da congregação para fazerem tratamentos cá nas termas”, acrescenta esta fianense, que passou por diferentes tratamentos termais, que lhe “purificaram as defesas e reforçaram o sistema imunitário”.
Maria André tem uma energia invejável e o seu dia a dia é uma lufa-lufa. Não dispensa o termalismo para fortalecer o corpo e a mente, e recomenda-o a pessoas de todas as idades. Mentora e obreira do grupo “As Moleiras de Fiães”, diz que nunca parou porque “parar é morrer”. Já participou no festival Imaginarius e na Viagem Medieval, cuida de uma horta pedagógica, faz compostagem doméstica e tantas outras atividades que preenchem os seus dias com ânimo e entusiasmo. Mesmo assim, ainda arranja tempo para as termas e para os netos, que acompanha sempre com gosto.
Os irmãos João e Miguel já se distinguiram no atletismo e querem alcançar os mesmos feitos no futebol – jogam ambos no Fiães Sport Clube. Eles dizem que a água das Termas de S. Jorge é “especial” porque os ajuda a serem mais velozes e resistentes. Opinião partilhada pela irmã Cíntia, aficionada pela dança e defensora de uma vida ativa e saudável.
No balneário termal, os três irmãos conhecem bem a área de tratamento ORL, um espaço colorido e animado, onde os mais novos fazem os tratamentos respiratórios de forma descontraída e divertida – irrigação nasal, inalação, nebulização, pulverização faríngea e aerossol – sempre com o acompanhamento de técnicos especializados e atenciosos.
Quanto à avó Maria, garante que vai manter a tradição termal na família e promete continuar a ser uma das fiéis embaixadoras das Termas de S. Jorge junto de amigos e conhecidos, pois acredita que tudo o que é bom e positivo “brota da mãe terra”. Que muitos sigam o seu chamamento!
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Maria Laura tem 82 anos. Laura Maria tem 62. Tia e sobrinha, madrinha e afilhada, ambas de Paços de Brandão, não partilham apenas o nome e uma longa vida de união e cumplicidade familiar. As "Lauras de Paços", como são carinhosamente conhecidas, são aficionadas pelas Termas de S. Jorge, onde se sentem em casa e fizeram amizades para a vida.
Há muito que não dispensam os tratamentos termais, pelo menos uma vez por ano, na temporada dedicada ao programa Termalsenior, que este ano começa em outubro. Dizem que agora é tudo mais fácil do que noutros tempos: o transporte é gratuito, a inscrição é gratuita, a consulta e os tratamentos são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde.
“Nas juntas de freguesia explicam tudo e tratam da papelada”, esclarecem tia e sobrinha, cuja ligação às Termas de S. Jorge não é de agora. Da infância à idade madura, são muitas as histórias que as "Lauras" têm para contar.
Aos 82 anos, Maria Laura ostenta um sorriso encantador e uma agilidade surpreendente. Recorda, com orgulho, que ajudou a criar cinco dos sete sobrinhos “como se fossem filhos”, mas é com Laura Maria que passa a maior parte do tempo. Não há dia que passe sem estarem juntas. Dá gosto vê-las lado a lado, a reavivar memórias.
A “tia Laura” começou a fazer termas nas Caldas de S. Jorge há 38 anos, tinha na altura 44, para tratar maleitas dos ossos – sofre de artroses. “Estou como estou graças aos tratamentos que fiz”. Conta que nessa altura não havia transporte gratuito como hoje. Alugava um “carro de praça” com mais quatro amigas e fazia temporadas de 21 dias consecutivos. Viu-se obrigada a fazer uma pausa de cinco anos para se dedicar inteiramente à mãe, que ficou acamada, mas regressou há cerca de sete, através do programa para idosos Termalsenior. Desde então, nunca mais parou.
Maria Laura está ansiosa para regressar à “família” das Termas de S. Jorge. Quer retomar as terapêuticas e reencontrar as amigas. Recorda que os tempos de confinamento foram muito difíceis para quem chegou a fazer tratamentos duas vezes por ano e, de repente, se viu privada de tudo. “Este ano vou escolher todos os programas a que tenho direito”, garante a sorrir. Orgulha-se de ser uma espécie de “embaixadora” das Termas de S. Jorge onde quer que vá. “As instalações são muito boas e o serviço é cinco estrelas, só posso recomendar a toda a gente”. Assegura, pela sua experiência, que os tratamentos termais retardam e controlam muitas maleitas. “Fazem bem a tudo, até à cabeça”.
Laura Maria, 20 anos mais nova que Maria Laura, estreou-se nas Termas de S. Jorge aos dez, para tratar a bronquite asmática que lhe roubava o sossego. Lembra-se perfeitamente do primeiro dia em que entrou pela fachada antiga, para uma temporada que se estenderia por quatro anos. Valeu a pena, pois ficou bem, mas foi alertada para uma possível recaída numa futura gravidez. Prognóstico certeiro. Foi isso mesmo o que aconteceu com a chegada do filho Francisco, hoje homem feito, empenhado no doutoramento em terras de Sua Majestade.
Laura regressou às Termas em 1995 para retomar os tratamentos respiratórios, que lhe aliviam as crises de asma, mas hoje em dia está mais focada em acalmar as dores nos ossos. Os últimos tempos têm sido “um martírio” por causa da pandemia, que a afastou das terapêuticas e da atividade social. Enquanto confidencia a falta que lhe faz o ambiente das Termas e a saudade que sente do grupo de teatro do CIRAC – do qual faz parte desde os 18 anos – os seus olhos, de um azul intenso, ficam ainda mais brilhantes.
Laura Maria fez muitas amizades nas Termas, mas recorda com particular carinho a amiga Damiana, de Lourosa, que tem uma patologia “muito complicada”, mas encontra no balneário de S. Jorge o refúgio certo para a superação. É uma verdadeira resistente, que se junta ao grupo de termalistas que, no final de cada temporada, organiza o “Chá das Cinco”, adoçado com bolo ou regueifa, para celebrar a amizade e mais uma despedida temporária.
Quando, há dias, regressou ao balneário para partilhar a sua história, Laura Maria sentiu de imediato aquele cheiro intenso, característico das águas sulfurosas. Não tem dúvidas de que as Termas de S. Jorge são um verdadeiro elixir para a saúde e bem-estar do corpo e da mente, por isso recomenda-as a todos, sobretudo aos mais velhos.
A Laura de Paços relembra que as inscrições para o programa Termalsenior – Saúde e Termalismo são feitas nas juntas de freguesia do concelho e que os padres dão uma ajudinha à divulgação, com um aviso no fim das missas de domingo. Abençoada colaboração!
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